
São Paulo é a cidade impassível e quase cruel que assistiu sem derramar uma gota de lágrima à derrota dos Bandeirantes. Seguiu em frente e se tornou forte dura e grandiosa. Hoje porém, vivo um casamento dificil, mas apaixonante com meu grande amor com minha maior e melhor amante: São Paulo. Minha amante não tem a beleza estonteante de outras cidades, não desperta paixão e desejo à primeira vista, e acho que nisso está o que ela tem de mais belo, pois São Paulo desafia. Ela diz "mergulhe em mim para descobrir o que posso te oferecer", e tais palavras são música para os ouvidos de um conquistador inquieto. É preciso adentrar São Paulo sem medo, em suas entranhas, para perceber o quanto ela apaixona e vicia. E ela é temperamental, uma mutante diferente a cada dia, a cada ano, e não imaginam quanta paz e beleza emana deste caos. Minha amante tem um "horrível sotaque"? Impossível, porque São Paulo fala e é dona de todos os sotaques. Se um dia você tiver a sorte de ter minha amada sussurrando juras de amor em seu ouvido verá que o doce sotaque paulistano é na verdade italiano, alemão árabe, japonês, chinês, gaúcho e nordestino, e que temos orgulho disso.
Túmulo do samba? Pode ser, pois o samba que chegou aqui morreu para renascer mais "nosso", único. Nosso "samba" renascido é carcamano, você talvez precise de um estágio nos botecos da Mooca, fazendo "aquecimento" para as partidas do Juventus, para poder entender nosso "samba". Mas, se for esperto, saberá do que estou falando assim que puser os olhos no rebolado de uma linda paulistana na quadra da Camisa Verde.
São Paulo também é do Rock. As paredes de pedra, a fuligem, as metalúrgicas... Que cenário tão perfeito para que tantos jovens pegassem suas guitarras para falar de amores desfeitos e lutar contra o "sistema". Você já ouviu Os Mutantes, Titãs, Ultraje, Ira! e o Cólera? Ouça.
São Paulo é inquieta, não pára e não dorme nunca. E está sempre pronta para ser domada em sua loucura ou para nos acompanhar nos mais absurdos devaneios. Não se deixe enganar pela garoa fria, pois São Paulo é quente. Ela tem o fogo das paixões, amores e ódios que desperta, e com ele nos aquece sempre que nos dá abrigo. São Paulo me pertence e eu, feliz, pertenço a ela.